12/02/2017
Rio de
Janeiro, 12 Fev 2017 (AFP) - À espera que uma nova onda de acusações de
corrupção se abata sobre Brasília, o presidente Michel Temer construiu um
bunker para limitar o potencial nocivo que as temidas delações da cúpula de
Odebrecht pode ter sobre seu governo.
A Operação
"Lava Jato" há quase três anos sacode as elites políticas e
econômicas do país, mas, longe de diminuir seu impacto, promete uma escalada de
denúncias para os próximos dias.
Os
procuradores estão investigando se Temer e outros políticos principalmente
pertencentes ao PMDB participaram na mega-rede de propinas e desvios
milionários de fundos da Petrobras para financiar suas campanhas eleitorais.
O nome do
presidente e alguns de seus aliados estão entre os citados nas delações
premiadas dos 77 altos executivos da Odebrecht.
As chamadas
"delações do fim do mundo" e seu potencial explosivo seguem sob
sigilo judicial, mas podem ser divulgadas em breve pelo Supremo Tribunal
Federal (STF).
"A
aproximação do tsunami levou o governo a acionar o plano de emergência",
afirmou Bernardo Mello Franco, colunista da Folha de São Paulo.
"A ordem
é reforçar os diques e tentar proteger os amigos com boias e coletes
salva-vidas", acrescentou.
- Protegendo o
presidente -Segundo um testemunho que vazou, o então vice-presidente Temer
pediu à Odebrecht, em 2014, que desse ao PMDB alguns milhões de dólares de
fundos para campanhas.
Temer nega
qualquer envolvimento e, como presidente em exercício, não pode ser processado
por delitos que supostamente ocorreram antes de assumir seu cargo. Mas, com um
grande número de colegas potencialmente envolvidos, o escândalo pode complicar
sua situação e, além do mais, o MP calcula que o número de investigados poderá
dobrar.
Quando o juiz
relator do caso no STF, Teori Zavascki, morreum em um acidente de avião em
janeiro, muitos se preocuparam com o futuro da "Lava Jato", enquanto
outros questionaram se o acidente que aconteceu justamente durante a
homologação das delações foi mesmo um acidente.
O STF, no
entanto, mostrou-se determinardo a seguir em frente e os analistas afirmam que
o círculo mais próximo de Temer está lutando para obter todas as vantagens que
puder, como nomear o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, uma figura de
perfil muito político, para ocupar a vaga de Zavascki no STF.
"Temer
não está sendo sutil", enfatizou a colunista de econmia do jornal O O
Globo Míriam Leitão, para quem o presidente "quer se assegurar de ao menos
um voto a seu favor".
Pouco antes,
Temer nomeou para ministro um de seus colaborados mais próximos, Moreira Franco
-também citado na "Lava Jato" -, uma visível manobra muito criticada
para tentar afastar o amigo do alcance da operação comandada pelo juiz Sérgio
Moro.
A nomeação
gerou uma batalha de pareceres de magistrados sobre se Moreira podia ou não
assumir o cargo, o que, por fim, será resolvido pelo STF.
- Tensão em
Brasília -Além do governo, os recém-eleitos presidentes do Senado, Eunicio
Oliveira, e da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, também estão envolvidos na
"Lava Jato", assim como seus antecessores Renan Calheiros e Eduardo
Cunha.
Maia atraiu os
focos esta semana por ter tentado tramitar uma lei para reduzir a punição para
partidos que aceitarem doações suspeitas.
Mas o juiz
Gilmar Mendes - que é tido como o mai reticente em relação à investigação da
"Lava Jato"- acusou o Congresso de elaborar uma lei "que dará
impunidade aos partidos políticos que façam malversação de fundos
públicos", e Rodrigo Maia teve que dar marcha a ré.
David
Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília, descreve a situação
como se a classe política de Brasília se estivesse "à espera do fim do
mundo".
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