Por Paulo Nogueira | 04/02/2017
Num romance de Agatha Christie,
uma pessoa é assassinada a bordo de um trem.
Quem matou?
Em mais uma de suas grandes
tramas, Agatha revela, no final, que não havia um assassino — mas vários. Foi
um homicídio coletivo: um grupo de pessoas dá, uma por vez, uma facada na
vítima.
Esse romance me vem à cabeça
quando penso na morte de Marisa Lula da Silva.
Nas redes sociais, muita gente
atribuiu a Moro e à Lava Jato a tragédia de Marisa. Mais precisamente, as
circunstâncias que tornaram sua vida um tormento e podem ter aberto as portas
para o AVC.
Pessoas próximas a Lula, como
conta a colunista da Folha Mônica Bergamo neste sábado, dizem que Marisa jamais
se recuperou da brutalidade do depoimento coercitivo imposto a Lula.
Policiais armados invadiram a
casa da família, vasculharam até a geladeira e levaram os iPads dos netos de
Marisa. (Há poucas semanas, Lula contou que apreenderam também o celular de
Marisa, com o qual ela papeava no “zapzap” com as amigas.)
Tudo isso — e mais os
constantes rumores de que Lula seria preso — parece ter sido demais para
Marisa. Só agora ela terá paz.
Mas Moro não estava sozinho na
perseguição furiosa a Lula que tanto contribuiu para a morte de Marisa.
Como no livro de Agatha
Christie, foi um ato coletivo. Muitas mãos estão manchadas de sangue.
As da Globo, por exemplo. Moro
e a Lava Jato não seriam nada sem os holofotes ininterruptos da Globo. A mídia
como um todo participou da caçada a Lula, com seu jornalismo de guerra. Mas
nenhuma empresa se empenhou tanto na empreitada quanto a Globo, com a possível
exceção da Abril com a Veja.
Os juízes do STF também têm sua
cota, dada a inércia com que lidaram com os abusos de Moro.
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